domingo, janeiro 20, 2008

Doida

Era louca, mas não sabia.

Desconfiava, mas não tinha certeza.

Os indícios eram muitos.

1. Tomava medicamentos controlados, de tarja preta.
2. Tinha pensamentos cheios de delírios, todos envolvendo situações impossíveis.
3. Ouvia vozes.
4. Falava com as paredes. Mas apenas porque as paredes falavam com ela.

Mas não foi assim que teve certeza da loucura.

Num belo dia de Domingo, cheio de sol, às 09:45, ela acordou. Estava com dor de cabeça. E muito irritada. Foi até a cozinha e lhe deram o remédio e o café de sempre. Ela tomou. Mas não se sentiu melhor.

Pegou a faca na bandeja para cortar a maçã. E aí veio o desafeto de sempre até a sua mesa.

"E aí, hein? Tá doidona? Tá doidona? Hahahahahahahaha...."

Todo dia aquele pedaço de merda em forma de gente lhe enchia a porra do saco. Sempre fazendo a mesma pergunta. E ela ficava p. da vida, mas não respondia.

Naquele dia, respondeu. Enfiou a faca até o cabo no seu fígado, de um só golpe. O homem morreu com o sorriso na cara. Nem teve tempo de confessar os pecados.

Os enfermeiros ficaram apavorados.

O terror de ver o merda caído, se esvaindo em sangue, se misturou em alegria ao constatar que nunca mais ouviria sua risada irônica. E aí, ela que gargalhou.

No Tribunal, alegaram insanidade.

E aí, ela teve certeza.

Um comentário:

Renata Carvalho Rocha Gómez disse...

Sou bipolar mas sociopata nao hahahahahahha