terça-feira, janeiro 22, 2008

Clean

Era uma dona de casa extremamente asséptica. A limpeza era seu valor primordial. Havia sido educada pela mãe a não sair para lugar nenhum se houvesse um copo sujo sequer na pia. Tudo tinha de estar limpo e organizado. Meticulosamente.

Sua cozinha brilhava de tão asseada. Qualquer sujeira logo se denunciava em meio a um espaço tão branco. Era fácil identificar invasores: moscas, formigas, pernilongos. E estes eram impiedosamente mortos.

Tinha todo um ritual que seguia. Primeiro, lavava a louça. Em seguida, as paredes. Depois, a organização dos armários. E, por fim, o pano no piso. Organizava os talheres por cores e formatos. Limpava o faqueiro a cada duas semanas, para evitar ferrugem. E ai de quem se aventurasse a sujar qualquer coisa durante a limpeza. Não se podia nem tomar água.

O marido tolerava. Se irritava algumas vezes, mas deixava passar. Conhecia bem a mulher. Era apenas deixá-la seguir seu ritual particular e tudo ficava tranqüilo na casa. Mas, caso acontecesse alguma coisa fora do normal e a limpeza não fosse feita, era o fim. Mau humor, irritabilidade e gritos por todo o lado. Então, ele preferia passar sede.

No dia em que a esposa gripou, seu médico foi enfático: “Cama e nada de limpeza”! Foi um golpe duro para ela. Em poucos dias de repouso, seu pânico era evidente. As panelas se acumulavam na pia. Os copos estavam adquirindo uma coloração gordurosa. O chão estava com uma crosta de sujeira e poeira. E, no auge de seu desespero, ela deu uma escapada até a cozinha, mas foi pega em flagrante com a esponja na mão. Foi duro reconduzí-la à cama. E ela chorou como um bebê inconsolável.

Ao final de uma semana, foi liberada pelo médico. E mal pisou em casa, envergou no detergente e no sabão em pó, espalhando água para todo o canto. Tudo ficou novamente meticulosamente limpo. Mas o resultado não foi dos melhores. Acabou gripando de novo.

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