sexta-feira, maio 25, 2007

A carta

Agora só restava a ele esperar a resposta da carta. Ele contava com a sorte, ansiava pelo momento em que tudo aquilo acabaria.

Ao chegar à casa vazia, constatou que havia dias que a bagunça reinava. No quarto da menina, os brinquedos ainda estavam espalhados pelo chão. Ele abriu a caixinha de música, deu corda e não pôde evitar se lembrar de como era alegre aquele lar. As risadas dela ecoando pela sala. Dormir Domingo depois do almoço, junto da esposa e da filha. Pequenos prazeres. Que davam motivos para ele acordar todo dia.



Ela pegou a carta e se sentou na sala de estar da mãe para ler.

"Minha querida,

ficamos muito tempo juntos, passamos por muitos obstáculos e dificuldades e quero crer que este é apenas mais um deles.

Hoje eu cometi o crime pelo qual você me acusou quando me deixou. Te traí. Fisicamente.

Tenho que dizer, no entanto, que meu coração nunca te traiu. Mesmo meus pensamentos mais libidinosos pela menina do escritório não foram uma traição.

Eu te amo como marido e te desejo de uma forma diferente. Você é uma companheira, uma amiga, alguém sem a qual não sei viver. Sim, fazemos sexo. Não com a mesma freqüência de antes, mas, será que realmente precisamos? Esses meus instintos animalescos, que descarreguei na pobre garota, não me fizeram sentir melhor ou amar mais, sequer mudaram a rotina do meu dia, que dirá minha vida.

Perdoe-me se eu desejei uma outra mulher. Mas saiba que em todas as mulheres, você é a que eu mais desejo. Você é e sempre será meu grande amor, mesmo que a gente não volte a ser casado. Somente você me deu presentes lindos, sem preço. Um lar, uma família... me perdoe, acima de tudo, por não ter sido grato o suficiente para dividir essas minhas emoções com você. Devia ter te contado tudo, por mais duro que fosse.

Agora, após ter transado com o objeto de nossa separação, terei de pedir as contas lá no serviço porque não suporto mais olhar pra cara da menina. Me sinto mal, culpado e dependendo da idade dela posso até ir preso! Acima de tudo, ela era apenas um desejo. Que se eu não realizasse, não ia me fazer falta.

Mas eu quis realizar para lhe dizer que agora tenho certeza do que sinto. Quero permanecer ao seu lado. Não sei se você suportará o fato de eu ter traído sua confiança. Mas eu quero mais uma chance.

Te amo e amo tudo que você me trouxe. Você mudou minha vida.

Aguardo sua resposta".

Ela levantou-se e foi pra casa da prima novamente. Pensar, pensar, pensar...

O flagra

Evandro seguiu os dois e quando viu o destino, apressou-se a ligar para a prima.

Ela atendeu o telefone. Renata estava ao seu lado.

O mundo começou a girar. Seus piores pesadelos se realizavam.

Ela mal conseguia explicar pra prima o que estava acontecendo.

"Ele... não resistiu. Foi lá e comeu a menina..."

"O que o Evandro falou"?

"Que eles foram pro motel e... saíram de lá uma hora depois".

"Putz... que merda... bom, talvez tenha sido melhor assim, prima".

"Ah, não acho que foi melhor, não... achei que ele fosse resistir, fosse me pedir pra voltar... sei lá... será que o nosso casamento vale tão pouco assim pra ele"?

O telefone tocou de novo.

Era a mãe dela.

"Minha filha, seu esposo passou aqui em casa e deixou uma carta pra você".

"Ah, é? Falando o que"?

"Sei lá, poxa... eu não abri, oras".

"Tá certo... eu passo aí pra pegar mais tarde".