terça-feira, fevereiro 03, 2009

Virginia Woolf: várias em uma só

Esta é a capa do livro que estou lendo: "Contos Completos", de Virginia Woolf. Apesar de Virginia ser uma das maiores autoras inglesas do século XX (1882-1941) e de ter sido personagem do filme "As Horas", com Nicole Kidman interpretando-a, eu não a conhecia. Só de ouvir falar. Nunca tinha lido nada dela. E me surpreendi um bocado.

O início do livro, devo confessar, me entediou um bocado. Os primeiros contos eram enormes e bem maçantes. Curiosamente a melhor parte era sempre no final. Quando o conto começava a me interessar, acabava. E eu ficava p. da vida.

Mas a medida que Woolf foi envelhecendo ela ficou, aparentemente, muito melhor escritora, com mais percepção de climax e abordando cada vez mais uma especificidade que parece ser só dela: o interesse no ser humano. Isso apesar de seus problemas pessoais.

Pelo que a gente lê, ela era o tipo de escritora que observava as pessoas na rua e, pelo que conseguia captar, tecia as mais mirabolantes e imaginativas histórias. Em "A Viúva e o Papagaio", que ela relata como sendo 'história verídica', Virginia mostra como o amor aos animais pode ser extremamente decisivo na vida de um ser humano. Já em "Lappin e Lappinova", um dos contos que mais gostei do livro, ela mostra como um casamento pode se acabar se não nos esforçarmos por perservar o seu encanto.

Em vários dos contos ela mostra verdadeiros flagrantes do cotidiano: uma mulher que vai a uma festa com um vestido amarelo e se sente como uma 'mosca prestes a se afogar na xícara'; uma outra senhorita que se horroriza com um rapaz que pega uma mosca e corta suas asas com as mãos; um senhor que fica a observar um quadro com uma paisagem e se imagina andando dentro dela; uma mulher que coleciona papéis antigos e se encanta com o diário da avó de um velho fazendeiro; um marinheiro que volta para casa de viagem da China e traz alegria e tristeza para sua mulher, dentre tantos e tantos outros.

Você ri, você fica triste, intrigado e pensativo. É um livro formidável. Vemos os primeiros passos de "Miss Dalloway", quando ela aparece em alguns contos apenas como personagem coadjuvante. Vemos uma Virginia que faz contos com leve tendência ao lesbianismo e criticando valores que eram considerados em sua época sagrados, como o matrimônio, a maternidade e a 'Sociedade'. Vemos que Virginia era várias mulheres em uma, pensando à frente de seu tempo, questionando o conceito de felicidade que nos é 'vendido' e, acima de tudo, "acreditando na sua própria raça". Ela acreditava no ser humano, o amava com seus defeitos e qualidades e não se cansava de descrevê-lo, continuamente.

Recomendo em alto grau.

Saiba mais sobre Virginia Woolf e sua triste trajetória pessoal.

2 comentários:

Anônimo disse...

Virginia Woolf tentou 'curar' sua loucura pelo suicídio

http://www.revistabula.com/materia/virginia-woolf-tentou-curar-sua-loucura-pelo-suicidio/598

Priskka disse...

Muito obrigada, anônimo, seja você quem for! Esse link que você passou é fan-tás-ti-co!!!