terça-feira, maio 15, 2007

A Fuga

O mais silenciosa que pôde, ela colocou o vestido azul na pequena valise. Olhou ao seu redor e sentiu uma emancipada saudade. Saudade de dias mais felizes que aquele.

Não havia muito tempo. Ela pegou a mala e levou até o carro.

Então, ela pegou a pequena, que estava dormindo. A menina estava inerte, imune àquela fuga.

Com a filha no colo, desceu e abriu devagar a garagem. Entrou no carro, colocou a menina ao lado e saiu.

Quando ele chegou, duas horas mais tarde, o silêncio reinava absoluto. Não havia o barulho habitual das panelas sendo mexidas, o cheiro do arroz com feijão, as risadas da menina, que iluminava a casa. E ele logo estranhou. "Teriam elas saído para algum lugar"?

Ao colocar o notebook sobre a mesa, a surpresa: Havia um bilhete.

"Meu caro,tu me decepcionaste muito.

Tudo o que foi prometido, desfez-se. Tudo jogado fora. Tudo em vão.

Quando eu vi teu olhar para ela, eu soube. Havia acabado. Teu amor era outro.

O ardor dos seus olhares já não era mais meu. Vi você reparando em tudo. No contorno das coxas, na sinuosidade das curvas, no encaixe dos músculos, na boca vermelho-sangue.

E soube que era o fim.

Vou-me antes que murchem as flores. Enquanto ainda há tempo para guardar por ti algum respeito em minha memória. Deixo-te a casa vazia, para que com ela coabites, se quiseres.

Levo minha filha, pois que ela é única para mim. Já você, poderá fazer outros filhos naquele tão
bem delineado ventre.

Cordiais despedidas deixo-te,

assinado,

...".

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